"Seu trabalho pode sempre melhorar".
É visível quando uma frase dessas está no limiar de sua boa vontade ou já atacando sua sobriedade. A tarefa mais difícil de se profissionalizar em qualquer arte é o de ouvir que seu trabalho não está bom. Ou que, se você tomar uma outra posição, mudar aqui e acolá, seu trabalho ficará melhor.
Não estamos falando de Rocket Science. Apesar de eu sempre afirmar que audiovisual não é arte em si, mas usa da arte para existir, o princípio é artístico. Porém, mesmo pelo fato de ser artístico não quer dizer que é aleatório, sem ciência, ou conhecimento de coisas que funcionam mais que outras.
Defendo o Design Clássico de histórias, assim como Robert Mckee (o queridinho dos roteiristas atualmente) assim como o "pai" dele, Lajos Egri, e o tetravô dele, William Shakespeare. Nada de novo sobre esse sol. Mas isso é algo que é concreto, mensurável por algoritmos até. Não é algo inventado, tirado de trás da orelha par suprir o ego de alguém.
Premissas testadas em combate, que sobreviveram por séculos em estruturas narratológicas que comunicam, encantam e convencem quem as consome é a ciência da arte da escrita.
Replicar retóricas de histórias em plots de forma a trabalhar contraste também são processos testados. Existem coisas fora desse universo que funcionam? Certamente. Não é Rocket Science. Contudo, para você ter certeza do que está fazendo, fique bom naquilo que é estudado há séculos e então subverta as regras.
Na maior parte das vezes, quando vejo iniciantes querendo subverter o design clássico eles estão só atestando que o trabalho ficará ruim, não profissional e será esquecido no lamaçal de nossas ingênuas incapacidades ferrenhas. Como professor de Roteiro vejo isso o tempo todo. Como Diretor e Produtor vejo esse mesmo problema acontecer em diversas situações também profissionais.
Não peguei um longa metragem para trabalhar a distribuição dele exatamente porque a narratologia dele estava uma BOSTA. Não tem outra palavra para descrever o tamanho do erro do diretor que surrupiou cenas e inventou pontas na história que não faziam nenhum sentido. Ofereci até, mediante um valor, de criar cenas e gravá-las para corrigir o máximo possível a falha na história. Não fechou negócio. Então só me resta dizer: "sinto muito, senhor, mas seu trabalho precisa melhorar muito".
E toda uma estratégia de alguns milhões de reais, equipe altamente qualificada será jogada no lixo por que o Ego Mata Talento (Ego Kill Talent - nome de uma banda excelente de Belo Horizonte que roda o mundo)
De todas as funções que você vier eventualmente exercer no audiovisual ou na maior parte das artes ligadas à indústria, a mais difícil, é aceitar que seu trablho pode melhorar. Você ficará numa defensiva sentimental absurda que te fará sofrer, vai doer. Eu já senti a dor. Eu sinto essa dor. Mas, você começará a ser profissional quando deliberadamente procurar a mão mais cirúrgica para infligir essa dor no seu ego. E você vai pagar pra isso. Vai agradecer. Vai querer mais. Saberá distinguir onde está sua vaidade e onde está o seu profissionalismo.
Não quer dizer que você não deva defender suas escolhas com unhas e dentes. Defenda! Mas tenha conhecimento para se embasar sua defesa, utilize suas melhores armas. Não utilize da dor que existe no seu ego artístico para garantir com sentimentalismo que sua obra será realizada. Ela não será, pelo menos não com o meu dinheiro ou com o dinheiro de pessoas da indústria. Talvez você simplesmente vai fazer sua família sofrer gastando mal o dinheiro que não foi você quem conquistou.
Veja o tamanho do arco dramático que a dor imatura vai te conduzir. Você é confrontado em algo que realmente pode melhorar, você se ofende e briga por posição, realiza um trabalho ruim, perde tempo, gasta dinheiro e volta à sua mediocridade.
"Seu trabalho pode sempre melhorar". Escolher quem você quer para te falar isso é uma das estratégias de não maltratar tanto o seu ego, ou permitir a consideração de pessoas que você admira.
E você será cada vez mais profissional quanto mais vezes consultar pessoas de resultado sobre o que realmente você está em processo de realização.
Lembre-se o Ego Mata Talento, a dor é real e pode consumir você na insignificância dela mesma. Sabendo disso, baixe as armas para quem pode te ajudar a desenvolver seu trabalho e encontre o valor da boa vontade de aceitar o que pode te melhorar como profissional.
Eu precisava ouvir isso! Obrigada!
ReplyDeleteMuito bom. Um profissional tem o ego trabalhado em prol da obra e não de si mesmo.
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