"Estude por uns dois anos e estará pronto", me disse o instrutor da oficina de atores sobre eu realizar meu primeiro curta metragem. Um detalhe interessante, eu não estava fazendo aquela oficina!
Era Festival de Inverno Cultural em São João del Rei em 2003! Oficina de
Produção Audiovisual: uma câmera na mão e uma ideia na cabeça. Câmera simples e
ideia coletiva ruim, criada pelos participantes da oficina. Não era nem uma
história, era uma situação. Mas, eu era voto vencido numa democracia de párias.
O resultado final da oficina não foi mais digno do que um filme primário de qualquer realizador: imaturo, ruim, sem reviravoltas. Mas, talvez o que era o objetivo principal do Festival foi entregue: eu precisava fazer mais daquilo.
Não levou dois anos para eu realizar meu primeiro curta metragem. Levou
na verdade 15 dias. Um tanto da minha arrogância juvenil quanto minha autoproclamada
capacidade me fez investir dinheiro do meu próprio bolso e arrastar vários
amigos e colegas de faculdade. Nasceu ali o meu primeiro projeto: O Menino
Verde.
Com sérios problemas de áudio, narrativa emocional, um trabalho de arte
e fotografia da Liliane Faria fantásticos. Uma realização multimídia e de
divulgação do publicitário Fernando Henrique, atuação magistral de todos os
atores, cooperação gigantesca de todos do grupo de alunos...
Erros de áudio, erros de edição, erros de câmera, pato e criança em
cena, coisas sem pé nem cabeça, personagem às vezes passivo, fala desconexa com
o todo, furo de roteiro, prazos estourados, locações magníficas, coincidências
sobrenaturais, brigas, amigos - nem fui entrevistado para o making off do meu
próprio filme...
"Eu não sou capaz de fazer isso."
Talvez esse pensamento deve ter passado por alguns segundos em minha
cabeça. Mas, eu sabia, a partir daquele dia de lançamento com o teatro cheio,
camisetas promocionais, site hospedado no maior portal da cidade, que a
sensação de realizar era mais potente que o medo do fracasso.
Aquilo viraria meu negócio e minha vida.
Não levei 2 anos de estudo para adaptar e roteirizar um conto homônimo
de um livro meu. Não fiz 30 cursos de roteiro para começar a saber o que
deveria melhorar ou não. Eu fui testar e aprender em campo.
Fiz isso algumas outras dezenas de vezes. Cada obra ruim aprendendo o
que fazer aliado ao aprendizado em um curso, um livro, uma outra pós graduação,
um mestrado... E já se foram mais de 17 anos. Só de empresa, a Coruba
Audiovisual, 15 anos. Virou profissão e carreira. Trabalho e sonho.
Disso tudo, eu aprendo sempre o que não fazer. Sei o que dá errado, sei o que é fracasso e sei onde mora a desistência: não espere 2 anos e dezenas de cursos. Fazer um filme é maior escola que qualquer outro curso.
Não se engane com mais um curso de roteiro. Levante e realize. Eu até
sugiro, para quem é aluno do Scriptoria que cancele o curso e vá realizar,
senão, os meus 17 anos de experiência aglutinados em algumas centenas de horas
vão te contribuir para achar que é difícil, que é impossível, que fazer um
filme é uma tarefa hercúlea.
Difícil é aceitar que nunca será perfeito, nem depois de 2 anos ou
depois de 17 anos.
Quando se aprende o fracasso na prática, é no mundo real que se ergue para a vitória.
Assista ao O Menino Verde:
Conhecimento absurdo!
ReplyDeleteÉ muito bom ver alguém com tantos anos de experiência e conhecer a caminhada que o levou até ali, já dizia o sábio: "Aprenda com os erros dos outros que não cometerá os seus." haha.
Adorei demais, ótimo post!