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Séries de TV

Captação

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Li em um grupo que as "empresas se guiam a produtos e não pessoas." (sic). Em uma única frase percebi um tanto de informações de subtexto. Deixando mais claro o contexto: a discussão era sobre a demissão de figurões da área de roteiro na indústria americana e nas empresas familiares brasileiras.

E há uma diferença enorme entre um universo de negócios e o outro.




Nenhum negócio verdadeiro, real, é guiado ou para produto ou para pessoas.

Qualquer negócio é guiado à solução de problemas, ou guiado pela solução de problemas. 


No caso do audiovisual, atrair atenção de milhares, milhões ocupando os momentos de lazer, dando sentido ao supérfluo, preenchendo a vida de experiências imaginadas, levando a catarse aristotélica, etc... essas são as soluções dos problemas.

Quanto mais pessoas o seu ofício atrair, mais você será remunerado por isso, é o que se chama de valorizar os talentos. Se eventualmente você falhar, você já não está apto para, naquele momento, solucionar os problemas.

Ninguém compra filme ruim para ajudar o diretor ou o roteirista. Aliás, ninguém consome nada por caridade.

O dinheiro é a medida objetiva entre duas subjetividades que passa pela solução de alguma questão que envolve o comprador. 


Não é porque você vai forçar o consumo de um produto por cotas que vai garantir o sucesso eventual dele no mercado. Se ele atrair milhares de pessoas, sinal que teve ressonância na solução do supérfluo ou de qualquer significado para seu espectador. A sua arte em si não tem valor algum, salvo se ela solucionar alguma questão do seu comprador.

E aqui surge a outra face da área artística ou da economia do supérfluo em geral ligada à cultura, a experiência do criador tende a ser soma zero.

Não importa se você fez sucesso estrondoso e atraiu milhões de pessoas no seu trabalho anterior. Nada, absolutamente nada garante que você seja capaz de repetir o feito. Você é sempre uma aposta de risco. Entretanto, vale salientar que outras instâncias do sucesso ampliam a tolerância para seu fracasso, mas porque você foi capaz de solucionar problemas anteriores, você forneceu solução concreta para pessoas reais, você tem um crédito OBJETIVO em dinheiro de lucro anteriormente conquistado.

Mesmo sendo de soma zero, com muitas improbabilidades de repetir o sucesso, você pode se tornar alvo de interesse. E ampliar sua chance de erro diante do público e dos investidores. Porém, com limites. Até Spielberg e Robert Zemicks já erraram com a comédia 1941...

Agora, a dinâmica da indústria americana é exatamente a que te permite estar hoje em um estúdio e amanhã seguir para outro, ampliando suas chances de apresentar soluções, usando seu histórico de crédito financeiro para ampliar suas tentativas, erros e acertos.  Essa dinâmica diferente da realidade brasileira se sustenta  porque a forma de se negociar os direitos patrimoniais, como o verdadeiro produto, é que é diferente. Lúcifer sai da FOX e vai para o Netflix e Syfy. Netflix salva os seriados que, olha só, eram produzidos para outros players do mercado.

No Brasil se vende o direito patrimonial eternamente em troca de salário, suposta estabilidade e por verba estatal sem risco para a produção. São poucos players, que por característica, são altamente dependentes do Estado e menos voltados para o princípio de solução do supérfluo.

A propriedade intelectual não está no mercado do licenciamento para terceiros no Brasil. Ela está na sua venda definitiva que cristaliza as possibilidades de trânsito dentro do mercado. 


Sua propriedade intelectual também não é vista, no Brasil, como um solucionador de problemas.

A quase indústria se engessa como um todo, ai se produz ou "autoral de nova onda de Cinema Novo", ou comédia histriônica do humor de chanchada. Não se preocupa com o alcance das soluções de supérfluo e fica exigindo um subtexto de que é defesa de cultura: "Mais Estado"; "Mais Dinheiro"; "Tempos Sombrios"; "Defesa da Cultura"...

Que cultura é essa que a suposta população consumidora que a circunda não a consome na sua maior parte? Margem de erro de 90%?

Esse texto parece quase uma falácia argumentativa de ladeira abaixo. Contudo ele está aqui para demonstrar o problema sistêmico de concepcão do que realmente é um negócio, de como se parte de uma ideia de priorizar a necessidade artística do indivíduo e não da sua capacidade produtiva, e como isso afeta o ecossistema de negócios, além de sustentar um argumento que justifica os motivos de você estar desempregado xingando o governo, as panelinhas do mercado, a falta de inovação, as dificuldades de entrar no mercado e etc...

Mudar a perspectiva individual é o primeiro caminho para se constituir uma indústria e dar sentido aos estudos que contribuiriam para aumentar as margens de acerto na solução para o supérfluo. Nenhum negócio sustentável se guia pela necessidade artística das pessoas, mas pelo tanto de solução que ele representa para os indivíduos na suas esferas pessoais, que, então sacam o medidor objetivo (o dinheiro) e compram aquilo que você concebeu como necessidade de inspiração.

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