Farscape é uma série de ficção científica criada por Rockne S. Obannon. Em 2019 está fazendo 20 anos do lançamento da sua primeira temporada. Amazon Prime está relançando a série, agora em HD em diversas partes do mundo, com uma possível série de eventos de comemoração.
Rockne foi um dos roteiristas e criadores que entrevistei na minha pesquisa para o mestrado. A conversa foi um grande aprendizado sobre a escrita, e claro, um pouco de contenção de histeria de fã.
Johnny Crichton não é somente um astronauta que foi jogado para dentro de um buraco de minhoca e ficou perdido no espaço, em uma nave biomecanóide, cheia de alienígenas amigos e perseguido pelo melhor vilão (?) que você poderá imaginar. O melhor cachorro da minha família chama-se Johnny Crichton, pois seria o mínimo de homenagem à um personagem tão fabuloso.
Antes de mais nada, vale lembrar que Farscape é uma franquia. Um Universo! Produzido pela Hallmark e pela Jim Henson que, por sorte, ganhou tons sombrios:
"Ai ele me chamou no seu escritório e me disse 'faça o mais estranho possível'".
Rockne se referiu a uma reunião com um novo executivo do canal SyFy que se enganara com Farscape e os bonecos da Henson Company. E é exatamente isso que você vai encontrar nessa série, tons sombrios e personagens que o bem e o mal não estão nem próximos do antigo maniqueísmo da Disney.
Além de tons sombrios e temas fortes, a série foi se transformando entre a primeira e a quarta temporada na sua concepção procedural para contínua. Foi exatamente pela mudança narratológica que a conversa com Rockne se deu. As mínimas mudanças dos personagens, naquela clássica aventura por episódio, por força de complexidade da trama vai se transformando em histórias que ocupavam mais de um capítulo. Já a quarta temporada é impossível, praticamente, de assistir fora de ordem sem perder a coesão da história e a evolução dos personagens.
Rockne me afirmou que isso se deu por conta de necessidade dramática. O modelo de distribuição ainda era broadcast, com um episódio por semana. Porém, as histórias e, principalmente, os personagens, precisavam cada vez mais tempo para justificar sua profundidade em conflitos extremamente elaborados e um arcabouço de referências.
Um ponto positivo para a estranheza que bonecos da Jim Henson em uma série de ficção científica eventualmente nos causava há 20 anos atrás. Hoje em dia, a mesma sensação acontece, e, se você aceita a questão, vai se apaixonar pelo Pilot, Rygel the Dominar e vários outros personagens que a empresa do Muppets foi capaz de nos presentear. Fico imaginando como seriam os efeitos CGI de 20 anos de idade na percepção atual. Certamente não nos permitiriam consumir sem julgar. Rockne S. Obannon e toda a equipe acertou em cheio em usar bonecos e maquiagens, pois assim, 20 anos depois, ainda é possível assistir à série com o mesmo encantamento, sem julgar imagens de computador truncadas e estranhas de 20 anos de idade.
Em outras palavras, você vai entrar no universo de Farscape de forma compulsiva e consumirá os seus 88 episódios e os dois filmes de 1h30 cada sem pestanejar. Depois ainda estará buscando quadrinhos, livros, trilha sonora e as dezenas de vezes que os fãs pediram a volta da série.
Para saber mais:
Obs. Farscape já esteve na Netflix. O box de DVD ou BluRay não foram lançados no Brasil, salvo os dois filmes finais, que recebeu o ridículo nome de Exército de Mercenários.
No comments:
Post a Comment