Porém, senti falta de uma coisa muito importante: personagens.
Sem querer me passar pelos chatos dos críticos de cinema, acho que é um filme que vale a pipoca sim. Seus olhos se encantarão com as caracterizações de diversas espécies e mundos. Você se lembrará de Avatar em muitos momentos. Vale das estranhezas será um constante em diversos personagens.
Personagens?
Bom, é aqui que mora meu descontentamento com o filme. Os personagens são ultra-rasos. Sem nenhuma profundidade, nenhuma força motriz de nos guiar. Claro que, com exceções. A princesa Lïhio-Minaa (feito pela atriz Sasha Luss) e Bubble (Rihanna) seriam grandes exceções. Porém, eles se vão muito rápido na trama e só são secundários.
Mckee, 1997, p. 146 |
Esses personagens que acabei de citar são muito bem trabalhados de acordo com esse quadro acima, retirado do livro Story, do Robert Mckee. As histórias por eles conduzidas, se assim tivessem sido, teriam uma pegada, um gancho, uma empatia muito maior com o público do que os personagens imutáveis de Valerian e Laureline.
O filme é lindo. Minunciosamente bem produzido. O filme acaba e é como se não tivéssemos compreendido nada daquele universo, do drama, dos conflitos... Nossos corações não foram conduzidos para nenhum dos milhares de mundo que ali estão. Nossos corações ficaram sentados no sofá, sonolentos, querendo acreditar que em algum minuto, como quando Bubble fala sobre sua existência, seríamos arrebatados para vivermos o drama dos personagens.
Mudanças, conflitos, evolução do personagem. Parece que cada dia mais os filmes carimbados de Block Busters não fazem mais tanto burburinho além da sessão de cinema em shopping centers para adolescentes.
Lajos Egri, fonte da qual Robert Mckee bebe muito para sua obra monumental já citada, diz:
"Um personagem se revela através do conflito; o conflito começa com uma decisão; uma decisão é tomada por causa de uma premissa de sua peça. A decisão do personagem necessariamente coloca em movimento outra decisão, do seu adversário. E é essa decisão, uma resultante de outra, que vai impulsionar a peça para seu destino último: provando a premissa." (EGRI,1946, p. 61)
Temos conflitos dos personagens centrais? Sim, mas todos superficiais, ou que não nos conduz a lugar algum além da expectativa. Teríamos Mil Planetas para termos bilhões de conflitos, mas, ficamos no raso da piscina, sem nos aprofundarmos na mente ou no coração de nenhum dos personagens centrais.
Não faltam efeitos especiais, mas faltou personagens. A história acontece praticamente à revelia da identificação do espectador com os motivos do personagem.
O filme acaba, você desliga e vai dormir. Talvez sonhe com a princesa ou com a Bubble e crie um mundo mais convincente de sentimentos que toda a pirotecnia que Luc Besson maravilhosamente construiu.
Em outro momento falo mais do meu mestrado onde comparo efetivamente as diferenças formas de constituição de personagem X história em relação ao consumo hoje em dia.
Para saber mais:
MCKEE, Robert. Story: Substance, structure, style, and the principles of
screenwriting. [S.l.]: New York: HarperCollins, 1997.
EGRI, L. The art of dramatic writing: Its basis in the creative interpretation of
human motives. New York: [s.n.], 1946.
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